
José Luís Araújo é candidato pelo Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Farnalicão, nas eleições autárquicas de setembro. Com 42 anos e natural de Sezures, José Luís Araújo foi deputado à Assembleia Municipal na última legislatura e abraça agora o objetivo de sereleito vereador. Entre críticas à gestão Da coligação, promete preocupar-se com as pessoas em primeiro lugar.
OPINIÃO PÚBLICA: O que o motivou a encabeçar uma lista à Câmara Municipal pelo Bloco de Esquerda?
JOSÉ LUÍS ARAUJO: A minha atividade política tem vindo a acontecer em Famalicão desde 2005 e a minha disponibilidade para encabeçar esta lista decorre precisamente do trabalho que tenho vindo a desenvolver ao longo destes últimos oitos anos, que culminou com este desafio do partido para encabeçar esta eleição. Foram quatro anos de um trabalho muito interessante na Assembleia Municipal. O Bloco de Esquerda marcou posições muito claras, muito fortes na Assembleia e orgulho-me de ter contribuído para esse trabalho. Neste momento entendemos que o concelho de Famalicão precisa que a voz do BE esteja representada na Câmara Municipal.
Tem como objetivo de ser eleito. O que poderá ser diferente nas Autáquicas deste ano para o BE alcançar esse objetivo?
O património de trabalho que o BE desenvolveu ao longo destes quatro anos. Claramente, o Bloco foi a oposição mais vincada no nosso concelho e os famalicenses reconhecem esse trabalho, essa capacidade, essa vontade, determinação e, acima de tudo, a confiança que o Bloco tem transmitido aos famalicenses. Entendemos que isso é um fator que pode determinar, de forma vincada, a possibilidade de elegermos um vereador.
Que diferença é que um vereador do BE protagonizará no executivo municipal?
Um vereador do BE coloca, desde logo, a possibilidade de não haver maioria absoluta. E isso fará com que a governação seja muito mais equilibrada, uma governação que não seja a vontade de uma pessoa ou de algumas pessoas, mas que haja um equilíbrio, que haja uma negociação, uma democracia muito mais participada. O nosso objetivo é na Câmara Municipal, sermos a oposição que, até agora, a coligação diz que não teve. Iremos apresentar propostas que correspondam às necessidades da população e, acima de tudo, iremos fazer com que o funcionamento da Câmara seja muito mais equilibrado, muito mais próximo das populações e represente muito mais os famalicenses.
Não faz, portanto, uma avaliação positiva da gestão da coligação PSD/PP nos últimos 12 anos?
Não tão positiva como aquilo que é mostrado ao concelho. É evidente que houve desenvolvimento, mau seria se não tivesse havido. Mas esse desenvolvimento, do nosso ponto de vista, teve muitas lacunas. Construíram-se diversas infraestruturas mas para aquilo que foi prometido aos famalicenses, para as necessidades que o concelho tinha há 12 atrás e que tem hoje, há muitas coisas que não foram cumpridas. É inaceitável que, hoje, Famalicão tenha partes do concelho sem redes de saneamento e abastecimento de água. Depois não há equilíbrio no concelho. As freguesias não foram todas tratadas com a mesma igualdade, houve, claramente, freguesias que foram desprezadas. E isso, não podemos aceitar. O concelho tem que ter resposta para todos, tem que se desenvolver de uma forma equilibrada, entendemos que isso foi uma das lacunas desta governação. E também o populismo com que foi governado o concelho.
Quais serão as prioridades do seu programa eleitoral?
Sabemos que as receitas que o concelho teve até agora não serão as mesmas nos próximos anos. Sabemos que a crise económica também se vai refletir na questão financeira da câmara municipal e será necessário uma gestão muito criteriosa. Ou se acode à situação de emergência social ou se fazem obras megalómanas. E aqui temos uma posição muita clara: primeiro estão as pessoas. Temas que fazer as obras que entendemos ser necessárias. O saneamento básico e o abastecimento de águas são essenciais. E depois, há uma série de infraestruturas em freguesias que têm que ser equacionadas de forma a que haja um concelho equilibrado. Por exemplo, o Parque da Devesa tem sido mostrado como a grande obra deste mandato, mas isso também nos mostra que a coligação esqueceu outras partes do concelho. O concelho tem vários rios onde podiam ser implementados parques de lazer de proximidade, para não obrigar as populações das zonas mais afastadas a terem que se dirigir ao centro. Até nisso se demonstra a visão muito centralista desta coligação.
Já falou que a emergência social será o principal foco para onde o BE vai apontar?
Claro que sim. A emergência social neste momento é a grande preocupação e nós não fugimos a isso. Não é novidade para o Bloco as questões sociais, basta ver que o programa de apoio social ao arrendamento que a Câmara propôs no início desde ano foi proposto pelo BE em dezembro de 2010. Nessa data o BE já tinha consciência da situação para a qual o país se estava a encaminhar... lamentamos que a Câmara só agora o tenha implementado. A situação social evolui de uma forma muito rápida. O Bloco irá propor a criação de um gabinete de emergência social que irá fazer uma análise, uma avaliação permanente, constante, da situação social, de forma a adequar as respostas que a Câmara possa oferecera qualquer momento, juntamente com os outros parceiros sociais. A questão da habitação é extremamente importante. O BE não aceitará que haja pessoas em Famalicão sem água potável e sem eletricidade, isso são fatores essenciais para a dignidade das pessoas.
O candidato do PS veio anunciar a oferta de livros até ao 12º ano. Como é que o BE vê esta medida e o que propõe para a educação?
O Partido Socialista nesta pré-campanha tem vindo um bocado a reboque de propostas do BE. Foi o caso do provedor do munícipe, que o BE apresentou em Famalicão pela primeira vez. Nós concordamos com a existência do provedor do munícipe nas não concordamos com a pessoa que é proposta. O provedor tem que ser alguém acima de qualquer partido, uma pessoa que os famalicenses reconheçam como alguém a quem possam socorrer-se. A questão dos manuais escolares: nós lembramos que foi aprovada ano passado, na Assembleia Municipal, uma proposta do BE para que a Câmara disponibilizasse os manuais escolares para os alunos do 2º, 3º Ciclo e secundário. Entendemos que não é correto a Câmara oferecer manuais a famílias sem dificuldades do 1ºciclo e não oferecer nada a famílias mais carenciadas do 2ºciclo. Entendemos que a Câmara deve oferecer os manuais escolares a todos os escalões mas às famílias realmente carenciadas. Essa proposta do PS é puramente demagógica e ignora, inclusivamente, a proposta que foi aprovada pela Assembleia.
Na desporto, a coligação já propôs a valorização do atual Estádio Municipal. O que é que o BE apresenta para esta área?
Neste momento, o desporto em Famalicão precisa de uma revitalização ao nível de modalidades em que a população menos favorecida possa aproveitar. Não podemos ver o desporto só como o futebol ou só como o atletismo. Há outras modalidades que têm que ser exploradas, temos que criar meios para elas. A coligação centrou a sua atenção há uns anos na construção da cidade desportiva, que nós sempre recusámos, mas vemos agora uma mudança de posição da coligação, que entendemos como populista, porque, por um lado, a coligação vem propor aquilo que não fez, vem pra- para requalificação do estádio que deixou durante muito tempo ao abandono e vem propor a criação de uma nova cidade desportiva. Entendemos que isto é uma dualidade, uma visão muito bipolar que não ajuda a clarificar. Demonstra que a coligação está apenas preocupada com a caça ao voto. Achamos que todo o concelho deve estar minimamente dotado de meios para a prática de vários tipos de desportos. Não adianta ter no centro da cidade meios muito bons, quando não existem no resto do concelho.
O BE vai apresentar candidaturas a todas as freguesias?
O Bloco gostaria muito de concorrer a todas as freguesias, mas é um partido que a nível de implantação local tem algumas lacunas. O cenário que temos atualmente de imigração e de migração de muitas pessoas, também afeta o BE. Temos, inclusivamente, pessoas que estariam definidas para ser candidatos e entretanto emigraram. A Coordenadora do Bloco colocou a decisão de concorrer às freguesias aos militantes dessas mesmas freguesias. Posso dizer que na freguesia de Oliveira Santa Maria, onde temos um representante na Assembleia de Freguesia, vamos concorrer. Mas vamos concorrer a outras também. Deixaria isso para a apresentação local de cada candidatura.
A este proposito, tem sido tecidas criticas à coligação PSD/CDS-PP por estar apresentar candidaturas às 49 freguesias, com promessa de manter as juntas abertas. Como olha para esta postura?
Desespero. A coligação já percebeu que procedeu à reforma administrativa de uma forma desastrada. Criou uma lei que contorna a constituição, criou uma lei que afastou as pessoas da decisão de extinção dessas freguesias e, agora, quando se percebe que as populações têm consciência disso, tenta mostrar às populações que afinal não foi isso, que quiseram outra coisa. Não podemos deixar de criticar esta Forma de fazer política, as populações merecem respeito. As populações merecem ser devidamente esclarecidas e estão a ser induzidas em erro.
Entrevista por Magda Ferreira para o Opinião Pública.